Nutrição Ayurvédica
Uma nutrição que vê o ser humano de forma integral, percebendo toda a função física, mental e espiritual do alimento e levando em conta diversos aspectos, desde a maneira como o indivíduo encara a própria vida até o momento da refeição. Assim é a nutrição segundo os princípios do Ayurveda, o milenar e complexo sistema de saúde indiano, o mais antigo em vigência no planeta, com mais de 5 mil anos de existência.
Para entender a nutrição ayurvédica é preciso compreender alguns conceitos básicos da medicina ayurvédica, segundo a qual os elementos da natureza (ar, fogo, água e terra, mais o éter, para os indianos) se unem em pares para formar três doshas - humores biológicos classificados como pitta, vata e kapha -, que atuam na nossa fisiologia. Cada indivíduo pode ter um, dois ou três doshas predominantes que, quando desequilibrados, podem levar a uma série de doenças e alterações emocionais, tais como irritação, depressão e ansiedade. “A alimentação deve buscar o equilíbrio dos doshas”, explica a médica Brenda Kalil, professora de Ayurveda. “Indivíduos que tenham o dosha predominante kapha (água e terra), de natureza pesada, oleosa, fria e lenta, - continua ela - têm tendência natural ao aumento de peso e letargia. Por isso, devem evitar alimentos com essas características, com a manteiga (que é oleosa) e carboidratos (que são pesados)”. Para esses indivíduos, recomenda-se o consumo de alimentos secos e adstringentes, como o repolho, a cenoura e o alface. Para os indivíduos com natureza essencialmente pitta, de natureza quente, são indicados grãos, saladas cruas e hortelã. Já para os vata, de qualidade fria e seca: leite, iogurte e aveia, por exemplo.
Além dos doshas, a dieta no ayurveda leva em conta uma série de características individuais. “Nós estudamos cada ser humano como único e exclusivo e orientamos uma dieta de acordo com sua individualidade”, afirma Kalil. Dessa forma, mesmo que o leite seja um alimento benéfico para um indivíduo vata, é preciso verificar se ele tem intolerância à lactose, por exemplo.
Segundo o ayurveda, o ambiente da refeição e a forma como uma pessoa interpreta a vida têm reflexos na alimentação. “Trata-se de um conhecimento milenar indiano e já foi até comprovado pela ciência ocidental. Esses fatores alteram a produção de hormônios e, consequentemente, a maneira pelas quais os alimentos são absorvidos”, diz a médica. Por essa razão, não se deve jantar ou almoçar assistindo a um filme com cenas de violência.
Para a ciência milenar indiana, os alimentos são classificados em seis sabores: doce, azedo, salgado, picante, amargo e adstringente. A base da alimentação são os grãos e não é recomendado comer mais do que caberia em duas mãos na forma de concha. Hortaliças e frutas podem e devem fazer parte da dieta, mas estas só devem ser ingeridas até 30 minutos antes ou até 30 minutos depois da refeição. “Não existe sobremesa na dieta ayurvédica”, diz Kalil.
A carne não está proibida na dieta ayurvédica, mas deve ser consumida no máximo uma vez por semana. “Embora a carne seja permitida, o ayurveda considera que nos nutrimos da energia de cada alimento. Dessa forma, é preciso refletir: como algo que vem acompanhado de tanta dor pode trazer benefícios a alguém?”, indaga a especialista.