Sob o murmúrio ancestral das florestas celtas, o Ogham - palavra que pode ser entendida como “linguagem (ou marca) de Ogma”, o Deus Gaélico da Eloquência - chega ao Instituto Potala entalhado em pequenos bastões de madeira.

Cada letra é chamada fid, termo antigo para “haste” ou “graveto”, e seu traço simples encerra o som, a árvore e o arquétipo que a tradição medieval associou a esse alfabeto irlandês do século V. Assim, segurar um fid não é só tocar madeira: é empunhar uma chave‑inspiração capaz de abrir camadas de memória e propósito.

Antes de qualquer bastão tocar a mesa, convidamos você a três respirações que aterram, aquecem e elevam. Em seguida, a mão percorre um saquinho de tecido, escolhendo, sem pressa, os gravetos gravados; cada um porta um nome gaélico que se desdobra em símbolo vivo: Beith (Bétula), por exemplo, inaugura novos ciclos, Duir (Carvalho) firma raízes na coragem, Saille (Salgueiro) mostra como curvar‑se sem quebrar.

Os fid são dispostos em três partes - raiz, tronco e copa - mapeando passado, presente e direção de crescimento. O praticante lê primeiro o valor fonético da letra, depois a voz da árvore que a tradição emprestou e, por fim, o convite prático que a vida moderna solicita. Na tiragem, Nuin fala de conexões digitais e sinapses criativas, enquanto Tinne alerta para limites saudáveis no corpo e na agenda.

Depois de decifrar o quadro, os conselhos se transformam em ação: talvez um banho de alecrim para honrar Fearn (Amieiro), ou um compromisso de agenda que materialize a firmeza de Coll (Aveleira) em suas finanças.

Como corredor de luz entre eras, o Ogham funde arqueologia e poesia. Cada fid é um graveto e, ao mesmo tempo, uma chave que destranca clareiras internas, mostrando que decisões brotam fortes quando ouvimos o lenho da sabedoria antiga. No Potala, essas linhas de madeira se transformam em passos concretos, renovando o caminho sob a copa infinita das possibilidades.